quinta-feira, 21 de maio de 2009

ESPÍRITO DE REPÓRTER

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Modernizando-se, paralelamente, à complexidade gradativa que adquirem as relações socias no Brasil por conta do processo de industrialização, a imprensa adotou padrões técnicos de tratamento do noticiário que eram internacionais. O jornal passa a trabalhar com códigos que liquidam o beletrismo e introduzem elementos de objetividade ao qual o profissional terá de se submeter, sufocando parcialmente o exercício do aprofundamento jornalístico.
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Em certos momentos de seu trabalho, Euclides da Cunha entrava pelo sertão conflagado(...). Conferia fontes e procurava investigar pessoalmente os fatos, a ponto de expor-se a perigos em lances de temeridade nascidos do entusiasmo em desvendar o 'mistério' e de conhecer o universo da caatinga (...). Durante toda a viagem estendia seus passeios pelos ermos, nos quais, decerto, circulariam grupos conselhereiristas (...)
Não se restringia, pois, à segurança da comitiva do ministro, onde, aliás, de nada ficaria sabendo para noticiar a seus leitores. Procurava por si os fatos que simultaneamente satisfizessem seus interesses intelectuais - e que futuramente constatariam em Os Sertões - e constituíssem as notícias aguardadas pelos leitores.
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Euclides da Cunha não é um jornalista, embora tenha produzido material sobre Canudos que é visto como pioneiro da reportagem. A rigor, no entanto, o autor de Os Sertões olha o objeto de sua investigação com o olhar do naturalista, do investigador conduzido pela brutalidade do meio geográfico e pelas características da etnia.
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Ilustração: Reprodução
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